Trem do Pantanal

terça-feira, 13 de março de 2012

ONÇA DO PANTANAL! VER PARA CRER

Seria  para sempre historia de pescadores, se não fosse a tecnologia das pequenas câmeras digitais, e até mesmo celulares, que tiram fotos e filmam imagens com alta definição e com lentes que aproximam distancias impressionantes, fazendo com que fotografias tenham alta qualidade , e como no mundo quase todas as pessoas já possuem pelo menos uma destas duas tecnologias citadas, o que eram histórias, viraram fatos comprovados.
E quando um pescador ou um vaqueiro ou mesmo um ribeirinho contava que tinha visto uma onça, a primeira impressão é de que era mentira, e sempre foi assim, deve ser pelo fato de que ver um animal tão astuto e discreto assim livre na natureza é privilégio de poucos sortudos. Bem, isso foi há pouco tempo.
Com o avanço da pesca para os lugares mais distantes e preservados do pantanal, o mito de que presenciar uma onça pintada totalmente selvagem era quase que impossível começou a cair. E também por outros motivos, como áreas de preservação permanente como a estação ecológica de taiamã “o melhor lugar do mundo para poder avistar onças selvagens”  que se localiza a aproximadamente 130 km da cidade de Cáceres- Mato-grosso , “ uma área que foi criada com o intuito de preservar a fauna e a flora da região.
Muitas pessoas contam historias de onça, mas até nós aqui do pantanal sabemos bem que avistar uma é não é fácil, o fato é que nos últimos anos a população de onças aumentou muito, devido a proibição total da caça e implantação de reservas ecológicas no pantanal, nos lugares mais preservados e com menos movimento de pessoas “que é o caso da reserva do taiamã”já é possível avistar com freqüência estes felinos,outro fator é que nos períodos de seca as onças vem mais  para as beiras do rio a procura do seu principal alimento, que é a capivara” um roedor com hábitos aquáticos.
Um dos motivos que também vem favorecendo o avista mento de onças nas margens dos rios é que alguns guias de pesca e turistas jogam peixes na beira para que elas apareçam para comer, fazendo com que percam o medo de humanos e assim tirar fotos, “pratica completamente errada e equivocada” pois cada vez que interferimos na alimentação dos animais, mudamos também seus hábitos.
Através de anos pescando no pantanal, adquiri um certo conhecimento da presença e forma de viver deste animal, e vendo a possibilidade de trabalhar com o turismo ecológico, comecei a pesquisar e estudar mais sobre a onça pantaneira, então a cada pescaria que eu fazia com turismo de pesca , aproveitava para levar uma câmera digital, e passei a monitorar todas as aparições , marquei locais, fiz anotações dos lugares preferidos,e onde tinha maior incidência,passei a observar os hábitos e forma de se alimentar, os ruídos que fazem para se comunicar, assim passei a ter sucesso nas buscas pelas onças e me tornei um dos guias mais requisitado para turismo ecológico. É impressionante quando você passa a ver este animal com os olhos dele mesmo, fica fácil o entendimento comportamental dele, e um dos princípios primórdios é o respeito, sempre que avistar manter uma distância segura , pois por ser um animal de hábitos solitários não é chegado a movimentação e sempre que se sente incomodado vai para dentro da mata, as onças sempre sabem da presença de pessoas e se não for incomodada possivelmente não vai sair do seu local de descanso,notando isto ao avistar
uma onça, nuca paro o barco de imediato, primeiro! Passo por ela como se não estivesse visto, a uns 200 metros dou a volta e subo bem devagar , nesta hora o silencio é muito importante, e ao se aproximar desligo o motor, mesmo sabendo que o barco esta ali e todos olham, ela parece não se incomodar, tendo uns indivíduos que até fazem pose para fotos . Outras se evadem rapidamente, mas a maioria se deixa fotografar por muitos minutos.
Se o guia aprender a seguir as pistas de uma onça é quase certeza de avista La, sempre por onde passam deixam vestígios, onde se alimentam, geralmente fica os restos da presa , ou quando arrasta um animal abatido deixa as marcas no chão, sempre que estão presentes os outros animais ficam agitados, normalmente deixam marcas de urina e unhas nas arvores para marcarem seus territórios e em alguns momentos gruem para se comunicar, e como aqui tem uma enorme população de onças encontrar vestígios não é difícil.
Lembro me de um fato que ocorreu comigo, quando fui levar uns turistas alemães para ver onças, eles estavam muito ansiosos para tirar fotos, e eu tinha 3 dias para proporcionar o encontro, no primeiro dia choveu muito e só podemos sair depois do almoço,mas no período da tarde não é uma boa hora de se ver onças, e depois de umas duas horas de navegação em uma curva notei umas capivaras agitadas e já percebi que tinha uma onça por perto, ao passar o olho de relance para o outro lado do rio vi uma pintada abaixada espreitando o grupinho, avisei a intérprete e ela mais que depressa os avisou, como era a primeira a ser avistada da viagem, eu também fiquei apreensivo, e cometi um erro grave, joguei o barco de uma vez em direção a ela , que se assustou e rapidamente se evadiu do local,e foi tirada apenas umas poucas fotos de longe, voltando para a pousada eu pensei comigo mesmo que não poderia mais cometer este erro , estraguei um bom momento para foto e sem querer coloquei a integridade dos turistas em perigo, imagine que uma onça esta caçando, e eu jogo o barco para cima dela,ela pode se assustar e se defender como pode imaginar um de nós uma boa refeição,mas guardei esse pensamento só para mim e prometendo para mim mesmo não errar de novo.
No outro dia, amanheceu com muito sol e logo percebi que seria mais fácil o serviço , saímos e adentrei na reserva, e depois de algum tempo,um dos turistas já estava muito ansioso para ver uma e estava demorando para achar, então reclamou da demora e eu expliquei que era normal, mas que com certeza iríamos ver, ao passar por uma pequena curva que tinha uma praia vi que a água estava tremula e como na reserva não se vê barcos com freqüência percebi que algum animal tinha acabado de atravessar o rio e também vi o agito de jacarés na água, que normalmente são tranqüilos, então parei o barco com o protesto de urinarmos, e enquanto eles foram fazer as necessidades, eu sai andando a procura de indícios de que fosse uma onça e não me decepcionei, vi uns rastros fresquinhos, percebi isso porque ainda tinha água nas marcas de pegada, e então chamei o alemão ansioso e disse que estávamos perto do encontro e assim ele se acalmou.foto.
Logo depois a duas curvas abaixo, ao passar por uma barranca, vi embaixo de uma figueira uma enorme onça, e passei direto sem que os turistas vencem, e lembrei do erro passado na hora , então desci um pouco, parei o barco e avisei que tinha uma onça um pouco acima e que todos se preparassem e pedi também para fazerem silencio,então subi bem devagar e logo a frente avistamos o belo gato e sua imponência, era uma grande fêmea , bem gorda, sinal que estava se alimentando bem, parei o barco a uns 50 metros dela e os clikes das maquinas começaram , depois de muitas fotos decidi chegar mais perto e ela se permitiu ser filmada e fotografada a menos que 15 metros, parecia pousar para as fotos, e dali saímos sem que ela se quer se incomodasse com a presença de humanos , e nestes dias avistamos mais de 8 onças, todas em locais diferentes , de todos os tamanhos , entre machos e fêmeas.
Entre esta e outras, foi que adquiri conhecimento sobre estes animais, foi vivendo no mato, foi presenciando fatos, lógico que estudei sobre elas, mais não existe escola melhor que a vivencia e a pratica.
 Outro episodio que chamou muito a atenção para as onças pantaneiras , foi que no dia 24 de junho de 2008, um pescador ribeirinho amigo meu “Luiz Alex da silva Lara” foi atacado e morto por duas onças pintadas, quando dormia em uma barraca onde estava acampado com seu pai,Alonso, “compadre do meu pai” no momento em que foi morto , ele estava sozinho e quando seu pai chegou no acampamento o mesmo já estava morto e sendo arrastado para a mata pelos animais, mesmo tentando afugentar as onças elas não soltaram o corpo,fazendo com que o pai pedisse ajuda via radio, mesmo com o socorro chegando rápido já era tarde demais, e os que estavam por perto só conseguiram encontrar o corpo a uns 200 metros mata a dentro, outros encontros e ataques já aviam ocorridos, mas não com esta gravidade, um ano depois outro pescador foi  atacado Por uma onça, dessa vez ela arrancou um rapas de dentro do barco e ao cair na água, o Piloteiro do barco bateu com uma aste de ferro na cabeça dela até que a mesma soltasse o pescador! Estes fatos foram fortemente divulgados nas imprensas nacionais e internacionais. Mas isto não faz com que as onças sejam culpadas pelos ataques , pois é o homem que se aproxima mais e mais dos seus habitats, e por ser o maior predador das Américas , sempre que houver encontros , haverá riscos, por isso cautela e respeito é essencial para com as onças pantaneiras.

Encontrar individuas com mais de 130 kg é comum por aqui, geralmente os machos são bem maiores que as fêmeas.A pelagem varia do amarelo-claro e castanho,a barriga é esbranquiçada e por todo o corpo tem manchas em formas de aureolas na cor preta, o comprimento total do corpo pode se aproximar dos dois metros e até um metro de altura, existem animais que por uma deficiência genética ficam com a cor preta, mas tratasse da mesma onça pintada e é muito raro casos assim.A onça pantaneira é bem maior que as das matas , o motivo não posso explicar ao certo, talvez pela abundancia de alimentos ou pelo bioma da região. São eximias caçadoras, podendo abater grandes animais incluindo antas, e até bovinos, mas a comida predileta são as capivaras,cervos, porcos selvagens e aves,também comem quando possível jacarés.Na reprodução, tem em media dois filhotes que acompanham a mãe até poderem caçar sozinhos.Excelentes nadadoras, e também sobem facilmente em arvores, é extremamente territorialista e tem hábitos solitários, ao atacar uma presa morde sempre na nuca ou no pescoço para abatê-la. Os lugares mais fácil de encontrá-las ,são nas entradas de igarapés,barrancas sombreadas,puverais e regiões com concentração de capivaras e jacarés, aparecem normalmente nas horas mais quentes do dia.A melhor e mais segura forma de visualização é de barco, e digo por experiência talvez a única que proporcione boa aproximação.
Tudo que escrevi aqui, não tem embasamento técnico,não tem estudo de biólogo, por isso deixo claro que não sou biólogo e não tenho formação acadêmica na área ambiental, tenho sim o conhecimento de quem nasceu, cresceu e vive nesta região, sou filho de pescador profissional e aprendi desde cedo a conviver com a natureza pantaneira, desde muito jovem vivo no rio fazendo pescarias e já passei por muitos eventos e presenciei fatos espetaculares da fauna pantaneira, aprendi com  os mais velhos e com ribeirinhos, fiz amizades por todas as partes do pantanal cacerense e ouvi historias de tudo que envolve o rio, e sempre as  respeitei muito, e até hoje sempre que posso, paro em casinhas na beira do rio para conversar, tomar um café e aprender mais com este povo sábio, que entende como ninguém a natureza .
E de tudo que aprendi, um dos ensinamentos mais relevantes é o respeito, que devemos ter com o pantanal e seus habitantes, seja homens ou animais, isso é essencial para o equilíbrio da natureza e sendo tratada com respeito devolve tudo em dobro.  
                                                                                                                 LUIZ EMERSON DE SOUSA          

Um comentário:

  1. Muito bom seu blog, Luiz!
    Excelentes relatos!
    Um grande abraço,
    Mario Gonda.

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