Trem do Pantanal

segunda-feira, 26 de março de 2012

PESCARIA, TURMA DA OTORIDADE.


                                           IVAM,EU,MARCELO E MAICON.


A mais ou menos um ano atrás , um amigo que conheci na internet em uma comunidade de um site de relacionamento, me procurou com a intenção de vir a Cáceres, conhecer o rio Paraguai e fazer uma pescaria, como em 2011 eu ainda estava com muitos compromissos de trabalho, e de certa forma a agenda bem apertada, me dividindo entre a minha recém aberta pequena empresa e as pescarias já agendadas eu não consegui marcar uma data para ele vir neste mesmo ano.

Marquei então para ele vir no mês de março de 2012, que seria uma boa época para pescar aqui no pantanal, lógico que dependendo das chuvas , que iriam determinar o nível das águas , exercendo  grande influencia na pescaria.

E foi assim que mantivemos contatos nos meses seguintes até chegar o dia de ele vir.
Então o Maicom me avisou que viria ele e mais seu irmão Marcelo e o amigo Ivan, sendo assim marcamos a pescaria para o dia 9 de março,e depois de tudo combinado, foi só aguardar a data e esperar a turma chegar, preveni o Maicon que minha casa era pequena e simples, mas que estava aberta para receber os amigos.
O Maicon e os parceiros pegaram um voo de Porto Alegre-RS até Cúiaba-MT de onde locaram um carro e se deslocaram até Cáceres e com a ajuda de um GPS não tiveram problemas em encontrar minha casa.
Sempre que marco pescarias com pessoas que não conheço pessoalmente, fico meio apreensivo esperando o que virá, mas como a grande maioria dos pescadores sempre são pessoas humildes que gostam da simplicidade,e com esta turma não foi diferente, já na primeira impressão senti um grande alivio em perceber que se tratava de gente extremamente humildes com uma vontade enorme de conhecer o pantanal e pegar uns peixes.
Depois das devidas apresentações, ganhei dois belos presentes desta turma, uma faca de aço cirúrgico feita artesanalmente e um lindo boné da marca cabelas.
Então os covidei para dar um passeio na praça da cidade, e apreciarmos uns petiscos no cais da praça barão , e foi ali que começou os bate-papos de pescarias,e como todo encontro de pescadores o que não faltou foi causo de pescador e assim passei a eles todo o roteiro que iríamos fazer, e tinha planejado uma pescaria de três dias, mas eles me avisaram que só poderiam ficar por dois, então mudamos um pouco o cronograma, eu já avia alugado um barco maior com motor 40 hp, pois o meu barco é para apenas três pessoas e como navegaríamos por pontos mais longos, decidimos pegar esta embarcação maior e mais rápida, para aproveitar o Maximo de tempo possível.
Depois de uma ótima primeira impressão, e de degustarmos uma boa refeição voltamos para minha casa, para o pessoal descansar da viagem, como o Ivan é um policial e mais experiente que nós,o denominamos então como o senhor “OTORIDADE”, ajeitei o quarto de minha filha para que ele se acomodasse, “um quartinho todo rosinha e meigo” o que não era a cara dele, mas é o que eu podia oferecer e com certeza o otoridade não se importou com isto, o Maicon e Marcelo ficaram dormindo na sala, é lógico que eu queria oferecer melhores acomodações para os amigos, mas quem sabe na próxima eu já tenha um belo quarto de hospedes para  melhor acomodar meus parceiros de pesca.
Saímos no dia seguinte bem cedo, mas perdemos um pouco de tempo pelo fato de termos que comprar o combustível do motor e as iscas vivas para pescaria de dourado e pintado, mas apesar do pequeno atraso tudo acorreu bem e antes das 7 horas da manha já estávamos navegando rio abaixo em direção aos pontos de pesca que eu conheço e estava mais ao nosso alcance naquela ocasião.
Depois de 40 minutos de navegação chegamos a uma barranqueira de águas fortes conhecida como barranqueira do touro, onde eu sempre fiz boas pescarias,o tipo de pescaria para aquele local é chamado de pesca de arremesso, onde o pescador lança a isca viva (tuvirinhas e pequenos peixes) ou artificial, bem na beirinha do barranco onde ficam os lambaris que são constantemente atacados pelos dourados e pintados, nos primeiros momentos das pescaria não tivemos muito sucesso pelo fato dos pescadores ainda estarem se adaptando aquela modalidade e ainda ajustando os arremessos, mas logo que as iscas começaram a cair nos locais certos não demorou para fisgarmos os primeiros pintados, o Maicon sempre trabalhando as artificiais e o Marcelo e o Ivan nas iscas vivas, pegamos 5 exemplares de pintado, todos de pequenos e médios portes. O Maicon teve alguns ataques na artificial mas não teve sorte de segurar nenhum dourado.
Descemos o rio mais meia hora e chegamos na região da pousada que presto serviços (WWW.recantododourado.com.br) onde levei a turma para conhecer meu primo irmão Monark , administrador da mesma, e também para apresenta-los a Catiuce, o simpático cozinheiro do hotel que se maravilhou com o Maicon. Decidimos que iríamos apreciar um almoço pantaneiro para depois voltarmos a difícil vida de pescadores.
Depois do almoçamos decidimos direcionar a pescaria para os pacus, mas como o rio estava muito instável, dias com águas limpas e dias coma águas mais sujas , os pacus não estavam atacando bem as iscas, mas com um pouco de insistência, conseguimos capturar uns bons exemplares  na pesca de rodada, e decidimos levar um belo pacu para jantarmos na minha casa logo mais a noite. Descemos o rio um pouco mais até uma barranqueira conhecida por nome de Simão Nunes, mas não pegamos nada por ali, ao cair da tarde adentrei em uma Bahia que tem o nome de toma-vara, onde fizemos a pesca de pacu, atracados nas moitas de aguapés arremessando iscas de minhoca, ai a pesca melhorou um pouco, o Ivan estava se divertindo pegando as piranhas, quando o Marcelo fisgou um belo pacu que lhe proporcionou uma boa briga.
Com o cair da tarde , partimos rio acima em direção a Cáceres novamente com a intenção de paramos na barranqueira do touro, onde aviamos pescado de manha, chegamos já bem de tardezinha, e nos primeiros arremessos conseguimos pegar mais alguns pintados, todos pequenos, mas que proporcionaram boa diversão, e assim terminamos o dia e a turma pode apreciar o por do sol pantaneiro navegando nas águas do rio Paraguai.
Chegando na cidade, fomos direto ao mercado para comprar os mantimentos, iscas e combustível para deixar pronto para o dia seguinte e não perdermos tempo, e depois voltamos para casa para eu preparar o pacu a pantaneiro, que eu avia prometido fazer com o peixe que o Marcelo avia capturado, depois de pronto degustamos o peixe fresco pego do dia, depois de mais umas boas prosas fomos dormir para o próximo dia que prometia ser bom, combinamos de não levar nada para comer, apenas levaríamos tempero, bebidas e carvão, e o almoço dependeria de pegarmos peixes para assar.
Partimos bem cedo no dia seguinte, como tudo já estava pronto bastou colocarmos as tralhas no barco e partir rio abaixo novamente, como a turma já estava bem adaptada com o tipo de pescaria, ao chegarmos na barranqueira do touro o Maicon já no primeiro arremeço com uma isca artificial de meia água, fisgou um bom peixe, que não pulou, fazendo pensar que não se tratava de um dourado, e para nossa grande surpresa, ele capturou um belo pintado, mas por incrível que pareça foi fisgado pelo rabo, este que foi o primeiro peixe do dia e que seguramos para  para o almoço  e todos nós fisgamos pintados por varias vezes, até que em um arremesso  bateu um dourado para o Ivan, que trabalhou com maestria até conseguirmos embarcar o belo espécime .
Descemos mais o rio até uma pequena parte seca, e ali assamos  o pintado que o Maicon avia pego mais cedo na artificial, paramos por ali por mais ou menos uma hora e meia, e enquanto o carvão assava o peixe, mais prosa boa e historia de pescador foi o que não faltou, até que anunciei que o peixe estava pronto, abrimos mais umas cervejas e começamos a degustar aquele maravilhoso peixe (pintado na brasa) e melhor, fresquinho da hora.
Depois deste descanso e bem alimentados partimos para mais uma etapa de pesca, só que desta vez o sol de Matogrosso pegou pesado com a turma, fazendo com que eu e Ivan caíssemos nas águas do rio Paraguai para nos refrescarmos , então fomos fazer uns arremessos de iscas artificiais nas entradas de água que entram no mato, e não demorou para o Marcelo fisgar um belo dourado que no segundo salto conseguiu se livrar das garatéias, logo em seguida  bateu mais um, mas este nem chegou a ser fisgado.
Fomos então rodar os pacus mais uma vês, e bem em lugar de águas fortes a uns 15 metros da margem quando menos esperamos , o Maicon o Ivan e o Marcelo , todos fisgaram cada um , um pacu ao mesmo tempo , um verdadeiro “trible” e foi aquela farra, 3 pacus de uma vez só não é muito comum de se acontecer, e para não virar historia de pescador foi tudo devidamente filmado e registrado este episódio.
Antes de o dia acabar parei o barco em uma Bahia chamada de roda-barbudo, onde a noite se achegou em meios a varias fisgadas de barbados, eram tantos que as iscas mal afundavam e eles já puxavam e foi ali também que pegamos os inconfundíveis ARMAUS, um peixe estranho com uma serra em toda a extensão lateral do corpo, muito feio por sinal, que acredito eu ser pres-tórico e são uns oportunistas enxeridos ladrões de isca.
Como tudo que é bom dura pouco, a noite caiu e infelizmente precisamos voltar para casa, para finalizar aquele pescaria, já com um aperto no coração em saber que os meus mais novos amigos já teriam que ir embora.
Encerramos a pescaria já de noite, com um bom balanço, não pegamos muitos peixes, e nem aquele grande dourado que o Maicon queria, mas deu para esta turma ter uma boa ideia do que é o rio Paraguai, para finalizar por completo a pescaria fomos mais uma vez a praça do cais para beber umas cervejas, contar mais causos e apreciar mais um pouco a beleza simples da cidade de Cáceres.
Durante estes dois dias pude conhecer um pouco destes pescadores do sul do pais ,que com muita alegria e simplicidade, e uma coragem e disposição enorme para voar mais de 2.000 km e rodar mais 200 para me conhecer e pescar comigo.
 Tive o imenso prazer de conduzir esta pescaria para estes que agora chamo de amigos do peito e parceiros, estes pescadores que entendem que em um mundo onde a maioria dos homens parece passar a vida fazendo coisas que detestam, uma boa pescaria entre amigos é uma fonte inesgotável de prazer e alegria.
E foi na simplicidade de uma pescaria que encontrei novos amigos que jamais pretendo esquecer, já adiantando que no mês de julho agora e janeiro do ano que vem, estaremos juntos de novo para pescar e tomar mais umas pingas nas margens deste lindo e inconfundível  rio que é o Paraguai .
Deixo aqui meu agradecimento, ao Maicon , Marcelo e Ivan , a verdadeira turma da OTORIDADE.
LUIZ EMERSON DE SOUSA.                  

quinta-feira, 15 de março de 2012

DOURADO

Na bacia do prata “que fazem parte os rios do pantanal” tem o nome cientifico (Salminus maxillosus) já na bacia do são Francisco(Salminus brasiliensis).
Conhecido  no pantanal como “Rei do Rio”,  faz jus a fama, é um predador extremamente voraz e agressivo quando se trata de se alimentar, tem o corpo alongado que se alarga levemente da cauda para a cabeça em forma de torpedo, a cabeça é quase toda óssea, tem a boca grande com uma fileira em cima e outra em baixo da boca de pequenos dentes em forma de serrilhado por toda extensão bucal, o maxilar é extremamente forte  que lhe proporciona segurar e dilacerar suas presas com facilidade.
Pode chegar facilmente aos 20kg, mas o mais comum é encontrar indivíduos entre 3 a 10 kg no pantanal, no Mato grosso a medida mínima estipulada para captura é de 65 cm, já na cidade de Cáceres-MT, o dourado esta protegido por uma lei municipal, sendo proibido o abate e comercio, promovendo somente a sua pesca esportiva, o que em apenas dois anos já alavancou um aumento significativo nesta espécie no rio Paraguai, exemplo copiado da Argentina e que deu muito certo naquele pais para pesca esportiva.
É um peixe de escamas, que evoluiu para ser veloz, tem um biótipo que lhe proporciona alta velocidade e capacidade de saltar.
Ataca qualquer peixe de pequeno porte, podendo até mesmo cometer canibalismo devorando peixes menores de sua própria espécie.
Com todos estes atributos de predador podemos dizer que o dourado é uma maquina de caça potencialmente eficiente. 

Não tenho duvidas em dizer que é um dos peixes mais belos do mundo, tem uma coloração única, que vai do amarelo vivo a um tom alaranjado, que em algumas partes do corpo chega ao vermelho.
Diferentemente dos bagres que caçam tateando as presas por sensores nos barbilhões, os dourados praticam a caça de forma visual, promovendo na maioria das vezes a tática de emboscadas,pode caçar em cardumes ou solitário dependendo da região, quando esta caçando em emboscada vai atacar qualquer peixe que se mova em sua área de ataque.
Geralmente gosta de águas turbulentas e corredeiras de pedras, mas caça também em troncos submersos onde as águas são rápidas, é um peixe ativo e evita águas paradas.
O dourado é considerando por muitos o peixe mais esportivo do mundo, e atrai aos rios onde vivem, milhares de pescadores a procura de um grande troféu.
A forma de pescar geralmente é feita com carretilhas ou molinetes com varas que variam entre 25 a 45 lb, é pescado com isca viva,( tuviras, jejum , trairinhas, piaus,e outros pequenos peixes) .
E com iscas artificiais, geralmente de barbela, para meia água, entre 10 a 15 cm de cores variadas.O que o torna um atrativo impar para pesca esportiva.
Ao ser fisgado arranca muitos metros de linha, dependendo do seu tamanho e porte, e da saltos espetaculares para fora d’água tentando se livrar do anzol.
Rodar com o barco a deriva arrastando as iscas em lugares de correntezas de pedras, é muito eficaz.
Outra maneira muito eficiente e prazerosa e a pesca de arremesso,esta é praticada com iscas artificiais que consiste em arremessos precisos e o trabalho da isca em troncos submersos e entradas de água, e requer boa habilidade do pescador

A explosão de um grande dourado em uma isca viva ou artificial é de impressionar qualquer pescador, mesmos os já experientes ficam impressionados com tamanha voracidade. 
A linha a ser usada depende muito do local onde se vai pescar, geralmente se usa multifilamentos de 0,25 a 0,40 mm, ou nylon monofilamento de 0,40 a 0,60 mm, os anzóis podem variar entre 6/0 a 9/0, mas o mais comum no pantanal é o marine 7/0, devesse usar um distorcedor com empate de aço flexível de no mínimo 20 cm para evitar que o peixe corte a linha nos dentes, em 90% das pescas de dourado não se usa chumbo, por ser um predador de superfície o dourado raramente vai comer no fundo e geralmente ataca iscas em movimentos .
Outra maneira muito eficaz é a pratica de corricar, que consiste em lançar uma isca artificial de meia água, com o barco e marcha lenta soltar uns 60 mt de linha e arrastar a isca em determinados pontos do rio, esta pratica é talvez a mais eficaz para pesca do dourado, porem não muito esportiva sendo até proibida em algumas regiões. 

O dourado é um peixe extremamente brigão, e gasta muita energia durante uma briga com o pescador, chegando ao ponto de grande exaustão para se entregar, então na hora do embarque é inprescindível que se tenha muito cuidado ao manusea-lo,usar sempre o alicate pega-peixe, evitar o contato com as mãos antes da soltura e se for tirar fotos, fazer de maneira rapida para evitar que a pele do peixe perca o muco que a protege, usar sempre um alicate de bico fino para remover o anzol da boca para evitar possiveis acidentes, haja visto que seus dentes serrilhados podem causar grandes cortes na pele.
Sempre que for efetuar a soltura, deixar o peixe dentro da água por alguns instantes antes de libera-lo para que se recomponha e tenha força para nadar normalmente.

Tomar muito cuidado com peixes fisgados na isca artificial, pois é muito comum durante um salto o dourado se livrar da isca e com a tração feita pela vara, ela pode voutar com muita força em direção do pescador.    
Por estes e outros atributos ,o dourado é considerado o rei do rio, é um impressionante e eterno brigador, valente por natureza e agressivo por necessidade, o inconfundível maestro dos rios, que rege a disputa entre presa e predador, e que mora no imaginário de pescadores do mundo todo, que desejam um dia travar uma briga com este valente peixe inconfundivelmente Brasileiro.
Todo bom pecador tem consciência dos limites dos peixes e respeita as medidas e quantidades máximas para captura e abate,o ideal é que nunca mate mais que apenas só o exemplar que for comer, fazendo isso teremos peixes em abundancia por muito tempo.
Luiz Emerson de Sousa.

terça-feira, 13 de março de 2012

ONÇA DO PANTANAL! VER PARA CRER

Seria  para sempre historia de pescadores, se não fosse a tecnologia das pequenas câmeras digitais, e até mesmo celulares, que tiram fotos e filmam imagens com alta definição e com lentes que aproximam distancias impressionantes, fazendo com que fotografias tenham alta qualidade , e como no mundo quase todas as pessoas já possuem pelo menos uma destas duas tecnologias citadas, o que eram histórias, viraram fatos comprovados.
E quando um pescador ou um vaqueiro ou mesmo um ribeirinho contava que tinha visto uma onça, a primeira impressão é de que era mentira, e sempre foi assim, deve ser pelo fato de que ver um animal tão astuto e discreto assim livre na natureza é privilégio de poucos sortudos. Bem, isso foi há pouco tempo.
Com o avanço da pesca para os lugares mais distantes e preservados do pantanal, o mito de que presenciar uma onça pintada totalmente selvagem era quase que impossível começou a cair. E também por outros motivos, como áreas de preservação permanente como a estação ecológica de taiamã “o melhor lugar do mundo para poder avistar onças selvagens”  que se localiza a aproximadamente 130 km da cidade de Cáceres- Mato-grosso , “ uma área que foi criada com o intuito de preservar a fauna e a flora da região.
Muitas pessoas contam historias de onça, mas até nós aqui do pantanal sabemos bem que avistar uma é não é fácil, o fato é que nos últimos anos a população de onças aumentou muito, devido a proibição total da caça e implantação de reservas ecológicas no pantanal, nos lugares mais preservados e com menos movimento de pessoas “que é o caso da reserva do taiamã”já é possível avistar com freqüência estes felinos,outro fator é que nos períodos de seca as onças vem mais  para as beiras do rio a procura do seu principal alimento, que é a capivara” um roedor com hábitos aquáticos.
Um dos motivos que também vem favorecendo o avista mento de onças nas margens dos rios é que alguns guias de pesca e turistas jogam peixes na beira para que elas apareçam para comer, fazendo com que percam o medo de humanos e assim tirar fotos, “pratica completamente errada e equivocada” pois cada vez que interferimos na alimentação dos animais, mudamos também seus hábitos.
Através de anos pescando no pantanal, adquiri um certo conhecimento da presença e forma de viver deste animal, e vendo a possibilidade de trabalhar com o turismo ecológico, comecei a pesquisar e estudar mais sobre a onça pantaneira, então a cada pescaria que eu fazia com turismo de pesca , aproveitava para levar uma câmera digital, e passei a monitorar todas as aparições , marquei locais, fiz anotações dos lugares preferidos,e onde tinha maior incidência,passei a observar os hábitos e forma de se alimentar, os ruídos que fazem para se comunicar, assim passei a ter sucesso nas buscas pelas onças e me tornei um dos guias mais requisitado para turismo ecológico. É impressionante quando você passa a ver este animal com os olhos dele mesmo, fica fácil o entendimento comportamental dele, e um dos princípios primórdios é o respeito, sempre que avistar manter uma distância segura , pois por ser um animal de hábitos solitários não é chegado a movimentação e sempre que se sente incomodado vai para dentro da mata, as onças sempre sabem da presença de pessoas e se não for incomodada possivelmente não vai sair do seu local de descanso,notando isto ao avistar
uma onça, nuca paro o barco de imediato, primeiro! Passo por ela como se não estivesse visto, a uns 200 metros dou a volta e subo bem devagar , nesta hora o silencio é muito importante, e ao se aproximar desligo o motor, mesmo sabendo que o barco esta ali e todos olham, ela parece não se incomodar, tendo uns indivíduos que até fazem pose para fotos . Outras se evadem rapidamente, mas a maioria se deixa fotografar por muitos minutos.
Se o guia aprender a seguir as pistas de uma onça é quase certeza de avista La, sempre por onde passam deixam vestígios, onde se alimentam, geralmente fica os restos da presa , ou quando arrasta um animal abatido deixa as marcas no chão, sempre que estão presentes os outros animais ficam agitados, normalmente deixam marcas de urina e unhas nas arvores para marcarem seus territórios e em alguns momentos gruem para se comunicar, e como aqui tem uma enorme população de onças encontrar vestígios não é difícil.
Lembro me de um fato que ocorreu comigo, quando fui levar uns turistas alemães para ver onças, eles estavam muito ansiosos para tirar fotos, e eu tinha 3 dias para proporcionar o encontro, no primeiro dia choveu muito e só podemos sair depois do almoço,mas no período da tarde não é uma boa hora de se ver onças, e depois de umas duas horas de navegação em uma curva notei umas capivaras agitadas e já percebi que tinha uma onça por perto, ao passar o olho de relance para o outro lado do rio vi uma pintada abaixada espreitando o grupinho, avisei a intérprete e ela mais que depressa os avisou, como era a primeira a ser avistada da viagem, eu também fiquei apreensivo, e cometi um erro grave, joguei o barco de uma vez em direção a ela , que se assustou e rapidamente se evadiu do local,e foi tirada apenas umas poucas fotos de longe, voltando para a pousada eu pensei comigo mesmo que não poderia mais cometer este erro , estraguei um bom momento para foto e sem querer coloquei a integridade dos turistas em perigo, imagine que uma onça esta caçando, e eu jogo o barco para cima dela,ela pode se assustar e se defender como pode imaginar um de nós uma boa refeição,mas guardei esse pensamento só para mim e prometendo para mim mesmo não errar de novo.
No outro dia, amanheceu com muito sol e logo percebi que seria mais fácil o serviço , saímos e adentrei na reserva, e depois de algum tempo,um dos turistas já estava muito ansioso para ver uma e estava demorando para achar, então reclamou da demora e eu expliquei que era normal, mas que com certeza iríamos ver, ao passar por uma pequena curva que tinha uma praia vi que a água estava tremula e como na reserva não se vê barcos com freqüência percebi que algum animal tinha acabado de atravessar o rio e também vi o agito de jacarés na água, que normalmente são tranqüilos, então parei o barco com o protesto de urinarmos, e enquanto eles foram fazer as necessidades, eu sai andando a procura de indícios de que fosse uma onça e não me decepcionei, vi uns rastros fresquinhos, percebi isso porque ainda tinha água nas marcas de pegada, e então chamei o alemão ansioso e disse que estávamos perto do encontro e assim ele se acalmou.foto.
Logo depois a duas curvas abaixo, ao passar por uma barranca, vi embaixo de uma figueira uma enorme onça, e passei direto sem que os turistas vencem, e lembrei do erro passado na hora , então desci um pouco, parei o barco e avisei que tinha uma onça um pouco acima e que todos se preparassem e pedi também para fazerem silencio,então subi bem devagar e logo a frente avistamos o belo gato e sua imponência, era uma grande fêmea , bem gorda, sinal que estava se alimentando bem, parei o barco a uns 50 metros dela e os clikes das maquinas começaram , depois de muitas fotos decidi chegar mais perto e ela se permitiu ser filmada e fotografada a menos que 15 metros, parecia pousar para as fotos, e dali saímos sem que ela se quer se incomodasse com a presença de humanos , e nestes dias avistamos mais de 8 onças, todas em locais diferentes , de todos os tamanhos , entre machos e fêmeas.
Entre esta e outras, foi que adquiri conhecimento sobre estes animais, foi vivendo no mato, foi presenciando fatos, lógico que estudei sobre elas, mais não existe escola melhor que a vivencia e a pratica.
 Outro episodio que chamou muito a atenção para as onças pantaneiras , foi que no dia 24 de junho de 2008, um pescador ribeirinho amigo meu “Luiz Alex da silva Lara” foi atacado e morto por duas onças pintadas, quando dormia em uma barraca onde estava acampado com seu pai,Alonso, “compadre do meu pai” no momento em que foi morto , ele estava sozinho e quando seu pai chegou no acampamento o mesmo já estava morto e sendo arrastado para a mata pelos animais, mesmo tentando afugentar as onças elas não soltaram o corpo,fazendo com que o pai pedisse ajuda via radio, mesmo com o socorro chegando rápido já era tarde demais, e os que estavam por perto só conseguiram encontrar o corpo a uns 200 metros mata a dentro, outros encontros e ataques já aviam ocorridos, mas não com esta gravidade, um ano depois outro pescador foi  atacado Por uma onça, dessa vez ela arrancou um rapas de dentro do barco e ao cair na água, o Piloteiro do barco bateu com uma aste de ferro na cabeça dela até que a mesma soltasse o pescador! Estes fatos foram fortemente divulgados nas imprensas nacionais e internacionais. Mas isto não faz com que as onças sejam culpadas pelos ataques , pois é o homem que se aproxima mais e mais dos seus habitats, e por ser o maior predador das Américas , sempre que houver encontros , haverá riscos, por isso cautela e respeito é essencial para com as onças pantaneiras.

Encontrar individuas com mais de 130 kg é comum por aqui, geralmente os machos são bem maiores que as fêmeas.A pelagem varia do amarelo-claro e castanho,a barriga é esbranquiçada e por todo o corpo tem manchas em formas de aureolas na cor preta, o comprimento total do corpo pode se aproximar dos dois metros e até um metro de altura, existem animais que por uma deficiência genética ficam com a cor preta, mas tratasse da mesma onça pintada e é muito raro casos assim.A onça pantaneira é bem maior que as das matas , o motivo não posso explicar ao certo, talvez pela abundancia de alimentos ou pelo bioma da região. São eximias caçadoras, podendo abater grandes animais incluindo antas, e até bovinos, mas a comida predileta são as capivaras,cervos, porcos selvagens e aves,também comem quando possível jacarés.Na reprodução, tem em media dois filhotes que acompanham a mãe até poderem caçar sozinhos.Excelentes nadadoras, e também sobem facilmente em arvores, é extremamente territorialista e tem hábitos solitários, ao atacar uma presa morde sempre na nuca ou no pescoço para abatê-la. Os lugares mais fácil de encontrá-las ,são nas entradas de igarapés,barrancas sombreadas,puverais e regiões com concentração de capivaras e jacarés, aparecem normalmente nas horas mais quentes do dia.A melhor e mais segura forma de visualização é de barco, e digo por experiência talvez a única que proporcione boa aproximação.
Tudo que escrevi aqui, não tem embasamento técnico,não tem estudo de biólogo, por isso deixo claro que não sou biólogo e não tenho formação acadêmica na área ambiental, tenho sim o conhecimento de quem nasceu, cresceu e vive nesta região, sou filho de pescador profissional e aprendi desde cedo a conviver com a natureza pantaneira, desde muito jovem vivo no rio fazendo pescarias e já passei por muitos eventos e presenciei fatos espetaculares da fauna pantaneira, aprendi com  os mais velhos e com ribeirinhos, fiz amizades por todas as partes do pantanal cacerense e ouvi historias de tudo que envolve o rio, e sempre as  respeitei muito, e até hoje sempre que posso, paro em casinhas na beira do rio para conversar, tomar um café e aprender mais com este povo sábio, que entende como ninguém a natureza .
E de tudo que aprendi, um dos ensinamentos mais relevantes é o respeito, que devemos ter com o pantanal e seus habitantes, seja homens ou animais, isso é essencial para o equilíbrio da natureza e sendo tratada com respeito devolve tudo em dobro.  
                                                                                                                 LUIZ EMERSON DE SOUSA          

segunda-feira, 12 de março de 2012

PACU

O pacu é um peixe da família dos caracídeos, comum em quase todo o território Brasileiro, típico da bacia do prata, amazonas e pantanal.
Existem varias espécies, chegando ser catalogados mais de 20 tipos de diferentes pacus  só no Brasil e é enquadrado na categoria de peixes de escamas, possui escamas pequenas e abundantes por todo o corpo.
No pantanal os mais encontrados são o pacu caranha (piaractus  mesopotamicus ) o pacu-peva (mylossoma paraguayensis) e o pacu-peva coxa de negro (myloplus Levis), dentre estes o mais procurado e apreciado por pescadores é o pacu caranha conhecido também como pacu comum, por ter um porte maior e ter a carne muito saborosa, é considerado um peixe nobre do pantanal e muitos o tem como altamente esportivo.
Nos rios pantaneiros pode chegar facilmente aos 10 kg, mas normamente são encontrados na faixa dos 2 a 5 kg.  A medida mínima estipulada para captura no estado de Mato grosso é de 45 cm, nessa faixa de tamanho seu peso varia entre 2 a 4 kg dependendo da alimentação.
É considerado o porco do rio, por comer de tudo, classificado como onívoro e herbívoro por se alimentar principalmente de frutos , folhas e dejetos, que caem no rio.
 No meu conceito pessoal aqui no pantanal o pacu pode ser enquadrado como predador também, pelo fato de comer pequenos peixes , caranguejos e outros pequenos crustáceos.
Os principais alimentos do pacu no rio Paraguai são os coquinhos de tucum,laranjinha,marmelada, goiabinha,roncador, cajasinho dentre outros em época de cheia, já na seca seu principal alimento é o caranguejo, pequenos peixes e crustáceos.
O pacu é conhecido por sua dentição,incrivelmente semelhantes os incisivos e molares de um ser humano , tem um maxilar extremamente poderoso, que quebra castanhas muito resistentes.

É um peixe oportunista , tem o metabolismo acelerado com uma boa media de reprodução, geralmente adquire muita gordura por se alimentar de quase tudo, em época de cheias adentra em matas alagadas a procura de frutos e dejetos para comer, tem a capacidade de procurar por alimentos em águas muito rasas .
Com o corpo achatado e arredondado em forma de bacia é robusto e tem um biótipo que lhe proporciona grande velocidade e capacidade de ataque e fuga.
As formas mais eficientes de pescar este peixe são;
* As batidas com vara de bambu, usando o coco de tucum como isca, rodando nas margens boleando a linha e batendo a isca na água para simular a fruta caindo.A linha usada é de 0,60 mm de nylon monofilamento com anzol norueguês 6/0 com empate de aço 3 a 4 cm e chumbo de 10gm.

*A pesca de rodada, que consiste em soltar o barco a deriva em determinado ponto e arrastar as linhas de vara com carretilhas ou molinetes de pequeno a médio porte com isca de laranjinha ou queijo podendo usar também linguiças ou qualquer isca que tenha bom teor de gordura.A linha deve ser de 0,30 á 0,35 mm nylon monofilamento com anzol marine 4/0 com distorcedor e empate de aço n° 22 de 10 cm e chumbo de 10gm.
*Apoitado, que consiste em ancorar o barco em determinado ponto, e lançar a linha com carretilha ou molinete de médio porte e chumbo mais pesado usando o caranguejo como isca. A linha deve ser de 0,40 a 0,45 mm nylon monofilamento com anzol marine 4/0 com distorcedor e empate de aço n° 20 de 10 cm e chumbo de 30 á 80 gm.
*Atracado, que consiste em adentrar em baías e igarapés posicionar o barco em moitas de aguapés ou  qualquer vegetação que possa manter o barco parado na margem e lançar para o meio a linha com carretilha ou molinete de pequeno a médio porte e chumbo meio pesado com isca de caranguejo ou minhocas. A linha deve ser de 0,30 á 0,35 mm nylon monofilamento com anzol marine 4/0 com distorcedor e empate de aço n° 20 de 10 cm e chumbo de 30 á 60 gm.
*E a pesca de ceva, que consiste em fazer uma ceva colocando em determinado ponto do rio milho, mandioca e soja, para cevar os pacus, nesta modalidade se usa linhas bem finas e  chumbos e anzóis pequenos, as iscas geralmente são as mesmas usadas para fazer a ceva, lançar a linha com molinete de pequeno porte em direção onde os peixes estão se alimentando. A linha deve ser de0, 25 á 0,30 mm nylon monofilamento com anzol chinú 5 e 6  com distorcedor e empate de aço n° 22 de 3 cm e chumbo de 5 a 10 gm variando com a força da água.
Uma boa dica é sempre contratar um experiente guia de pesca da região, para conduzi-lo até os melhores pontos de pesca de pacu.
A pesca do pacu é muito prazerosa, é um peixe forte que oferece boa resistência a briga, consegue grandes retiradas de linha dependendo do tamanho e peso, ao manusea-lo deve-se ter cuidado ao retirar o anzol da boca, pois uma mordida acidental pode causar um grande ferimento, já vi caso de pescador que perdeu metade do dedo indicador por uma mordida de pacu, em geral o ideal é usar um  alicate de bico fino, fora isso não oferece nenhum outro tipo de risco, não possui esporões e nem qualquer tipo de toxina.
Na hora do embarque do pacu se for solta-lo o ideal é pegar com alicate pega-peixe e evitar contato com as mãos e manusear o mais rápido possível para soltura, se for levar, ai pode se usar um puçá “espécie de coador com cabo longo” para retira-lo da água.
Todo bom pescador tem consciência  dos limites dos peixes e respeita as medidas e quantidades  máximas para captura e abate, o ideal é que nunca  mate mais que apenas só o exemplar que for comer, fazendo isso teremos peixes em abundância por muito tempo.
Luiz Emerson de Sousa.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pescando entre onças


 A alguns anos atrás , quando eu ainda trabalhava como guia de pesca em um hotel turístico aqui  na região de Cáceres, fiz uma pescaria inesquecível com uns amigos de profissão,trabalhávamos em uma pausada de pesca chamada “hotel recanto do dourado”. Uma confortável instalação as margens do rio Paraguai a aproximadamente 50 km de Cáceres .
Era mês de junho, e a região próxima do hotel estava muito fraca de peixe pois o período de vazante já avia acabado por ali. Trabalhávamos como guia de pesca e quando não tinha turista para pilotarmos, fazíamos bicos pescando profissionalmente para vender os peixes e assim completar o orçamento. Avia rumores de que a vazante estava forte no pantanal abaixo da reserva e que tinha muito pintado no lugar! Alguns colegas que pilotam nos barcos hotéis deram informação que aviam pego muitos exemplares de pintado na região.
Como conhecedor do rio Paraguai e suas vazantes, sabia que era um bom momento para tentar ganhar um dinheiro extra, pois a falta de peixe perto da cidade fez com que turistas desistissem de vir pescar. Foi então que decidi convidar uns companheiros para irmos até o outro lado da reserve e dali começar a pescar, o percurso é grande “300 km de rio abaixo” e como La tem muitas onças, e naquele mesmo ano avia matado um pescador amigo meu (Fato este que foi muito divulgado por todos os meios de comunicação do Brasil, sobre o ataque de uma onça que matou um pescador em Cáceres). Então tínhamos que descer o rio em uma chalana, para acamparmos dentro dela e não precisar dormir no seco, e evitar um possível encontro com uma onça pintada “nos últimos anos o numero de onças no pantanal aumentou muito gerando assim muitos encontros inesperados entre pescadores e os felinos”.

Então  montamos uma equipe “eu , tino,Cezar,e o Zé Maria”decidimos que formaríamos duas duplas , eu  e o tino iríamos pescar juntos , Cezar e o Zé formaram a outra equipe,e assim preparamos tudo.
A chalana que fomos era da pousada e servia para transporte de carga, “é uma embarcação de médio porte, coberta e fechada nas laterais, com isso teríamos um acampamento flutuante”.Teoricamente falando é mais seguro acampar em um barco na região da reserva, por motivo dos ataques de onça ocorridos no local. Assim ,chegado o dia, preparamos as tralhas compramos os mantimentos,enchemos as caixas térmicas de gelos e partimos da cidade de Cáceres. Saímos do porto as 07:00 horas da manha, descemos o rio sentido pantanal ,após 4 horas de viagem chegamos na pousada que trabalhávamos e paramos para fazermos  almoço ,e pegar mais alguns apetrechos que ficava La, por volta das 13:00 horas da tarde, prosseguimos com a viagem, que ainda era longa.Navegamos o resto do dia.
E como é lindo o entardecer no rio Paraguai ainda mais viajando em uma chalana,que desliza suavemente pelas águas proporcionando ao navegantes imagens inesquecíveis, a cada nova curva um espetáculo diferente,os pássaros revoando, macacos e capivaras, jacarés , mutuns ,jacus, de vez em quando um onça pintada deitada de frente para o rio observando o movimento dos outros animais, “é impressionante como eu não me canso deste rio, nasci aqui, cresci e cada novo dia da minha vida eu agradeço a deus por me permitir estar vivendo no pantanal,a cada pescaria é como se fosse a primeira,a simplicidade e hospitalidade dos ribeirinho é de dar inveja, e no rio é como se todos se conhecessem a anos , e mesmo que o pescador nunca tenha visto o outro,em pouco tempo de conversa é como se já fossem velhos amigos , acho que é esta paixão em comum pela pesca que nos une uns aos outros .Nos acampamentos todos tem uma história para contar, um peixe que escapou, uma linha que quebrou ,uma onça que atravessou o rio na curva seguinte, uma esporada de pintado, enfim histórias é o que não faltam”.

Anoitecemos navegando e as 09:00 hs,da noite chegamos na entrada da reserva,depois de uma breve conversa decidimos que iríamos atravessar os limites,pois não é permitido parar ou acampar dentro da área de proteção.Atravessar a reserva de noite em uma embarcação lenta é uma grande aventura ,pois são 70 km de uma ponta na outra e no nosso caso mais 07:00 horas pela frente,e o pior !Não tem uma alma viva neste percurso, a não ser os animais selvagens, dentre eles a “onça”.
Por volta das 10:00 da noite aconteceu o primeiro problema,o motor começou a fazer um barulho estranho, fazia um tinido muito forte, então paramos para ver o que estava acontecendo e logo constatei que a porca do eixo cardam que faz transição do motor com a hélice avia se soltado, eu e o tino pegamos a caixa de ferramenta e metemos a mão na obra, uma hora depois , problema resolvido,pé na estrada, ou melhor na água , mais 2:00 horas e outro problema,o Zé que pilotava o barco estava muito sonolento e não percebeu um banco de areia , e encalhou o barco, mas uma vez outra trabalheira danada,tirei a roupa para evitar de molhar e cai na água o Zé também desceu,e começamos a empurrar para ver se desencalhava mas com muito peso estava difícil , então decidimos a descer um dos barcos de pesca que estava em cima da chalana,com esse novo auxilio de um motor rabeta 5,5, a lanchinha finalmente se soltou da areia para nosso alivio,então o tino assumiu o leme e me pediu para fazer companhia para ele para que não adormecesse também ,e assim foi , por volta das 4:00 da manha resolvi fazer um café e depois de pronto levei uma boa dose para o Tininho que se manteve firme a noite toda,La pelas 6:00 da manha atracamos do outro lado da reserva.Pronto ,viagem terminada .


Dormi umas 4:00 horas e só depois que  acordei comecei a preparar as armadilhas para começar a pesca de verdade, nesta região a pesca é feita numa modalidade chamada de ,Pendura ou para muitos de, anzol de galho. “Esta forma de pesca consiste em fincar ou amarrar um vara comprida de bambu ou varas nativas do mato, na barranca do rio para que a linha alcance as águas mais fortes e profundas das margens , amarrando uma corda de seda de aproximadamente 2,5 mm ,de espessura e uns 3 metros de comprimento , podendo ser alterado o tamanho conforme a profundidade do local , o chumbo também é proporcional a correnteza para que a corda de ceda não fique nem muito no fundo nem muito na superfície,chamamos isso aqui de meia água , o anzol pode ser 9/0 até 12/0, dependendo muito do tamanho da isca a ser usada,as iscas mais comuns para pintado aqui na região, variam muito com a época de pesca, no nosso caso naquele momento, o melhor era o Sairú, uma espécime de curimbatá de médio porte muito apreciado pelos grandes pintados ,sem descartamos as outras variedades de iscas como piaus,pacu-peva,e os camboatás .No primeiro dia de pesca as coisas iam bem eu e o tininho fincamos 20 varas em um lugar muito promissor, na boca de uma Bahia chamada de aterradinho,e no final da tarde adentramos nesta mesma para tarrafear e pegar as iscas,ai foi que começou os problemas de verdade , pintado estava boiando e bocando muito, mas por motivo do rio ainda estar um pouco cheio não conseguíamos pegar as iscas ,com muita dificuldade e mais de 1:00 hora tarrafeando conseguimos 20 iscas boas e rapidamente fomos iscar as armadilhas, logo depois retornamos para a luta de pegar iscas. Depois de umas 2:00 horas, voltamos com mais alguns sairús para iscar, e ao chegar nas varas tive uma bela surpresa ,de 20 varas 16 tinha peixes pegos,muitos fora da medida permitida mais 6 estavam com o tamanho bom, e isso me deixou animado, na segunda iscada saiu mais 3 pintados de medida,ainda estava sedo e a noite era boa mas não conseguimos mais iscas e assim voltamos para a chalana com 9 pintados, que foi um bom resultado pelo pouco tempo de pesca.Mais tarde o Zé e o Cezar chegaram com a mesma quantidade de peixes que nós, mas Reclamando muito da falta de isca também.
No geral a primeira noite de pesca foi muito boa,pois já tínhamos 18 pintados pegos que era um bom numero. E assim foi nos dias seguintes, muitos peixes mas poucas iscas, decidimos então descer mais o rio até uma região conhecida como “pacusinho”e La ficamos por mais dois dias sem ter muito sucesso, apesar de ter muito pintado continuávamos sem conseguir iscas, pegamos uns 50 kg de pintado e decidimos descer o rio mais ainda, até chegarmos na boca de uma grande Bahia conhecida como pacu-gordo ,imaginei que por a Bahia ser grande conseguiria isca com mais facilidade, este mesmo local foi onde ocorreu a morte de um amigo pescador por um casal de onças pintadas(o LUIZ ALEX filho de um a pescador muito conhecido e amigo, compadre do meu pai)esse fato deixou todos nós muito aborrecidos e tristes pois perdemos um bom companheiro  de uma maneira chocante e brutal.Ele foi retirado de dentro da barraca e arrastado por mais de 200 metros mata a dentro, quando o pai que estava olhando armadilhas chegou no acampamento e notou o que avia acontecido tentou socorrer o filho mais uma das duas onças o enfrentou fazendo com que recuasse, não tendo outra opção o pai pediu socorro pelo radio e todos os que estavam ali por perto se dirigiram para o local, mas já era tarde e o ALEX já estava morto, com a barulheira de todos os que procuravam o corpo as onças correram e deixaram o local, até que o encontraram já sem vida.Foi então feita uma homenagem ao Alex e bem no lugar onde ele foi morto pelas onças foi cravada uma cruz com seu nome e sua foto.

Atracamos a chalana bem em frente ao local do fato e uma vez ou outra eu olhava para a cruz do parceiro morto ,aquilo é de arrepiar ,mas fazer o que, tínhamos que pescar e o lugar sempre foi bom de pintado, em alguns momentos presenciei uma imponente onça deitada do lado da cruz,com olhar firme e frio mostrando que ali era a seu território é como se estivesse guardando a cruz da sua vitima.Eu e meu parceiro sempre evitávamos passar bem perto para não nos confrontarmos com o felino porque se acontecesse  ele com certeza sairia perdendo, pois por saber do perigo nunca mais andei desprevenido naquela região .
Nos dias que se seguiram,conseguimos pegar bons pintados, avia uma chalana de pescadores de iscas no local conhecidos meus e que sempre nos davam camboatás que entravam nas armadilhas de tuviras e isso quebrou bem o galho, em uma das noites num barranco em que eu avia colocado uma vara , ao olhar as armadilhas vi que tinha um peixe pego, peguei a lanterna e foquei só na vara que se batia muito na água com a fúria do peixe tentado  se soltar ,ao nos aproximarmos da armadilha notei um vulto grande bem em cima da gente, mas com a empolgação de ver logo o peixe nem notei que ali também estava uma enorme onça pintada nos observando a trabalhar ,depois do pintado embarcado num passar de foco da lanterna, meu coração quase parou com o susto que levei ao ver o animal a menos de dois metros da agente, vagarosamente e com a voz bem baixinha e suave avisei o tininho que estava na poupa do barco e assim mais perto ainda do bicho que em cima dele tinha uma onça e ele mais que depressa foi soltando o barco e a correnteza foi nos conduzindo para mais longe, fiquei impressionado com a frieza do tino, “pensa em um caboclo de coragem”e depois do susto vi que o animal só nos observava e não tinha maior intenção, pois se tivesse não teríamos como escapar, isso parece historia de pescador mas não aconteceu só comigo e com meu parceiro, é caso corriqueiro por aqui e acontece com freqüência estes encontros entre pescadores e onças.E no ano passado uma atacou um turista mineiro , avançando e  o arrancando do barco causando ferimentos gravíssimos , no qual foi salvo pelo piloteiro que bateu nela com um pedaço de paú fazendo com que soutasse o rapas.

Um dos motores de pesca que levamos deu problema, e começou a falhar e apagar , como sabíamos deste risco levamos um de reserva, eram 3 motores rabetas de 5,5 HP da Honda, e como não conseguimos consertar, o Zé decidiu retiralo do barco e o substituir por outro, e o colocou em cima da chalana bem na lateral ,  para quando voltarmos levar ao conserto, o problema foi que o cabeçudo não amarrou em nada deixando o motor Souto,quando decidimos que deveríamos voltar o Zé e o Cezar saíram na frente para ir retirando as armadilhas e combinamos de pegalos mais adiante, o tino deu partida no motor da chalana e eu fiquei no volante, como estávamos atracados debaixo de umas arvores com cipós pendurados a lanchinha saiu bem, mas logo na frente vi o Zé gritando desesperado pelo seu motor que ele avia posto em cima da lancha e não estava mais, não é que ao sairmos o peste do motor se enroscou em um cipó e foi para dentro da água, eu não sabia se dava risada ou se me preocupava , foi um fato inusitado, e voltamos ao local para procurar o diabo do motor, por sorte o rabeta caiu na água mais levou uns cipós enroscado nele assim marcando onde estava afundado, mergulhei me apoiando em um cipó e logo encontrei , amarrei uma corda nele e puxamos para cima para alivio do Zé e de todos nós,ai foi só risada .

Por fim no décimo segundo dia de pesca resolvemos atravessar a reserva de volta e pescar mais uns dias do lado de cima para completar a cota.Saímos do pacu gordo as 6:00 hs da manha e navegamos rio acima até as 13:00 da tarde quando chegamos na entrada da reserva, fizemos almoço e dormimos um pouco para começar a travessia que seria bem demorada , subindo o rio a viagem se torna mais demorada porque a embarcação tem que ir contra a corrente do rio e no nosso caso estava mais pesada com a carga de peixes,as 16:00 horas partimos rio a cima e foi uma bela viagem reserva a dentro, avistei duas belas onças no entardecer e tirei até foto de uma delas que nem se incomodou com a nossa presença ,a noite caiu e pau quebrou rio acima,quando  chegamos do lado de cima já eram 23:00 da noite,o Zé e o Cezar aproveitaram para ir colocar as armadilhas na que La mesma hora enquanto eu e o tininho fomos fazer uma janta, e decidimos que só íamos pescar no outro dia ,quando foi La pelas 4:00 da manha chegaram o Zé e parceiro com 7 belos pintados e pelo pouco tempo de pescaria imaginei que ali pegaríamos bem.
No amanhecer do dia seguinte, senti um bater bem fraco de água nas laterais da chalana e quando abri a janela lateral me veio uma grande preocupação, pois o tempo estava fechado com nuvens carregadas e ao longe já vinha branco o tempo com chuva, e logo percebi um vento que vinha do sul, então pensei comigo mesmo a pescaria acabou aqui, e não demorou muito o mundo desabou em chuva e vento em cima de nós, no rio se formaram ondas grandes  que tornavam quase impossível navegar com embarcações de pequeno porte, e assim sucedeu o dia todo, chuva , vento, e o frio que começava a apertar, foi uma das piores frentes frias que eu já tinha visto no rio, não dava se quer para tomar banho , ficamos três dias incapacitados de fazer nada e como o tempo não melhorou decidimos que a pescaria estava encerrada ali, e ao partimos de volta mais uma vez presenciei o pantanal e as maravilhas que ele proporciona, foram 27 horas de subida , apesar do frio estava muito feliz Por tudo ter dado certo e com mais uma grande carga de experiências e historia para contar.
Fico preocupado com o futuro do pantanal, pois pescarias como esta já estão ficando raras, o volume de peixe tem diminuído muito com o passar do tempo, até para os pontos mais longínquos já não se pode garantir boa pescaria, alguns afluentes do rio Paraguai estão sofrendo graves mudanças no bioma por causa de barragens hidrelétricas e isso juntando com a pesca predatória e o consumo excessivo de peixe tem contribuído para diminuição de peixes pantaneiros ,e é por isto que faço questão de escrever e contar essas aventuras pois é possível que no futuro fique apenas na lembrança as boas pescarias no rio Paraguai.     
LUIZ EMERSON DE SOUSA.

Pescaria com direito a porco monteiro


Esta pescaria aconteceu em 2009, no final do mês de abril.

O pantanal estava na época da vazante, e por todos os lados estava bom de peixe. Fui então designado pela pousada para conduzir uns turistas de pesca, que queriam pescar dourados e pintados. O grupo era formado por três duplas: um pai e dois filhos, com mais três amigos. 

Logo depois de ser apresentado à dupla que iria comigo, o “JUNINHO” e o “SHOTHINHO”, me apressei em montar as tralhas de pesca, pois tínhamos uma semana de pescaria pela frente, e todo pescador nos primeiros dias fica ansioso para começar a pescar logo. 

Foto: Luiz Sousa


Marcamos para sair bem cedo, antes do amanhecer. Abasteci o barco, peguei as tuviras e jejuns (peixes parecidos com as traíras, utilizados como iscas), e já deixei tudo no jeito, para não perder tempo. Depois de tudo pronto, então fomos para o pátio para conversar sobre como eu iria conduzir a pescaria, e logo de cara já vi que seria boa, pois em uma conversa vi que eles queriam apenas pegar e soltar os peixes e se divertirem, e todos eram mente abertas, acatavam todos os meus palpites, sobre as tralhas, iscas e consumo de gasolina para ir até os melhores pontos. E isto é muito importante, porque são os guias que conhecem a região, a forma de pescar e os pontos de pesca, e se o turista começa a se opor as suas decisões fica mais difícil pegar os peixes. Então aqui fica a dica: sempre escute o guia! As chances de pegar mais peixes aumentam muito. Depois de tudo acertado, tomamos umas cervejas e um delicioso caldo de piranha, oferecido pela pousada aos clientes todos os fins de tarde, e depois da janta fomos dormir para madrugar no dia seguinte.

Foto: Luiz Sousa


Antes do amanhecer eu já estava de pé, e como de costume bati na porta do apartamento do Shothinho, avisando que já estava na hora de sair. Ele rapidamente acordou o Juninho, e foram logo tomar um café bem reforçado, porque o dia seria puxado! Em seguida partimos.

Decidi que iríamos subir o rio até um ponto que eu conheço, chamado de barranqueira do touro, onde há vários dias eu vinha pegando muitos dourados e alguns pintados. A pescaria nessa época é do tipo de “rodadas”, onde subimos um pouco o rio com o barco, e deixamos que a correnteza nos leve rio abaixo, passando pelo ponto onde os peixes estão. As iscas são arremessadas na beira do rio, quase no barranco, onde os dourados e pintados ficam acuando os peixes pequenos. E já nos primeiros arremessos os pescadores fisgaram vários pintados, mas nenhum acima dos 5 kg. De repente, com um bom arremesso, o Juninho fisgou um belo dourado, que deu grandes saltos e pesou uns 4 quilos! Foi uma bela pescaria, mas sem peixes muito grandes. Depois do almoço descansamos um pouco, e voltamos novamente para o rio, e mais uma vez só pegamos peixes medianos.

Foto: Luiz Sousa


À noite, em mais uma rodada de cerveja, decidi que no próximo dia iríamos descer o rio para tentar os grandes pintados, em uma região de pedra conhecida como tucum, e em outra chamada de Simão Nunes. Ao amanhecer, partimos para nosso segundo dia de pescaria! 

Logo ao chegar no ponto de pesca, já pegamos alguns dourados, mas todos de pequeno porte. Foi quando me lembrei que tinha uma isca artificial da marca rapala, de meia água, e a coloquei para o Juninho, que em poucos arremessos conseguiu fisgar um dourado de bom tamanho, que deu muito trabalho para ser embarcado, e logo foi devolvido ao rio. Embarcamos também um belo pintado de medida, e decidimos que esse seria guardado para ser feito à noite, afinal, o pintado é um peixe muito apreciado, ainda mais fresquinho. Sem falar que é uma carne muito saudável! À tarde fomos atrás dos pacus, e conseguimos belos exemplares. 

Foto: Luiz Sousa


Novamente em nossas reuniões noturnas, decidi que mudaria de rio, e que iríamos pescar em um afluente do rio Paraguai, chamado de rio Jaurú, que ficava mais longe da pousada, e daria uma hora e meia de navegação. Nos preparamos para não voltar para o almoço, para não perder tempo e gastar menos combustível. Preparamos os lanches, e pedi para a cozinheira que fizesse um kit de sashimi, porque almoçaríamos no rio. 

Subindo o rio Jaurú, no dia seguinte, começamos a pescar bem acima, onde encontrei movimento de peixes pequenos que estavam saindo nas vazantes, e foi só começar a pescar que o “pau quebrou”, fisgamos belas cacharas e bons pintados, e o volume de puxadas estava tão bom que em alguns momentos parávamos para descansar. Foi quando o Shothinho fisgou um dourado de bom tamanho, e decidi que seria este o que viraria sashimi. 

Foto: Luiz Sousa


Lembrando que nessa época, a pesca do dourado ainda era permitida.

Prendi no viveiro e continuamos até a hora do almoço. Como o rio estava cheio, o único lugar que achei para parar e fazer o sashimi foi na barranca de uma fazenda que fica às margens do rio Jaurú. Parei o barco, todos descemos, e fui logo tirando o filé do dourado e cortando os filezinhos bem finos, para ficar bem macio. Foi quando percebi que no chão havia muito rastro de porco monteiro (porco de casa alongado). Imaginei como teria bastante porco monteiro por ali, pois por causa da cheia os porcos ficam ilhados nos lugares mais altos. Logo então percebi a chegada de dois vaqueiros da fazenda, que com muita simplicidade nos cumprimentaram e pediram uma cerveja, e eu mais que depressa abri a caixa térmica e peguei umas seis latinhas e dei a eles, que com um enorme sorriso me agradeceram. Foi ai que vi a oportunidade de fazer um grande pedido aos meus mais novos amigos: pedi a eles que, se fosse possível, nos venderem um porco monteiro, para assarmos no hotel e o vaqueiro mas que depressa respondeu que ja tinha um preso e que esta até capado

Ai foi só alegria! Disse a eles que naquele momento não seria possível levar, mas que no dia seguinte viria preparado para pega-lo, e ainda  traria uma caixa de cerveja para eles. Os vaqueiros ficaram com um sorriso de orelha a orelha, dizendo mais que depressa: “negocio fechado, e inté mato pro sinhô!”.

Firmado o acordo, voltamos à pousada, para almoçar e descansar para o outro dia, que prometia ser longo.

O porco monteiro não é um animal selvagem, como um cateto por exemplo. É um porco doméstico, que fugiu para o mato, e que por lá acabou procriando. Por viver no mato isolado dos humanos, acabam se tornando muito arredio e agressivo. Há peão que diz ter mais medo do porco monteiro do que de uma onça!

Saímos bem cedo no dia seguinte, e seguimos direto para o rio Jaurú, e ao chegar na fazenda os peões já estavam prontos, e fui direto a um pequeno cercado onde estava o porco .
Apesar de estar muito bravo consegui pegar e pear o bicho, e assim o levei para o barco.

O Juninho e o Shothinho “que já gostavam de um piseiro”, ficaram doidos com a arrumação. Agradeci a peãozada, e ao me despedir já recebi um convite deles para voltar em outra ocasião. Como ainda era cedo decidimos que continuaríamos a pescaria até a hora do almoço, mesmo com o porco bravo amarrado dentro do barco, e assim foi.

Fui tentar uns pintados na rodada de pedras chamada de tucum, já no rio Paraguai, mas quando cheguei já tinham muitos barcos no local da rodada, e nem parei. Decidi descer mais ainda o rio, até outro ponto chamado de Barranco Vermelho.

E já no primeiro arremesso o Juninho fisgou um lindo pintado, que lhe proporcionou uma bela briga. Depois de embarcar o peixe, percebi que ele havia engolido o anzol, e ao tentar livrá-lo do anzol acabei por machucar mais ainda o peixe, e infelizmente não tive alternativa a não ser sacrificá-lo. Uma pena, mas pelo menos o aproveitamos. 

Foto: Luiz Sousa



Tirando esses poucos exemplares que comemos, o restante dos peixes foram todos devolvidos ao rio, mesmo os que deram medida.

Os pescadores que estavam por perto ficavam muito curiosos para ver o que acontecia no nosso barco, pois o porco em alguns momentos aprontava um berreiro dos infernos, chamando a atenção de todos. O fato gerou muitas gargalhadas!

Ao retornar à pousada, ao chegarmos fomos a sensação! Um porco e um pintado dentro do barco! Eu nunca havia feito pescaria igual, e todos que estavam por perto não acreditavam no que viam.

Enquanto os pescadores foram almoçar e descansar, eu tratei de por água para ferver e limpar o porco monteiro.

Mais tarde, peguei umas lascas de lenha, coloquei na churrasqueira e mandei fogo! Depois de pouco tempo já tinha brasa boa para fazer o assado.

Foto: Luiz Sousa


Peguei as paletas inteiras e os pernis, temperei apenas alho, sal e limão, coloquei na grelha e meti no fogo. Pensa numa carne que fez sucesso!

Foto: Luiz Sousa


A farra se seguiu até o final da pescaria, onde esta turma de ótimos pescadores capturaram muitos dourados e pintados de todos os tamanhos, e o melhor: devolvendo todos ao rio!

Depois dessa pescaria, todos os anos a turma do Shother retorna para pescar aqui comigo, e sempre pegam muitos peixes, pois aprenderam a vir na época boa que é a vazante.

Mais do que guia e turistas, nos tornamos amigos, e mesmo que não possa conduzir a pescaria com eles faço questão de pelo menos sair um dia para pescarmos juntos. É uma turma especial, que solta os peixes capturados, e tem como prioridade a diversão, pegando peixe ou não.

Com pescadores assim o pantanal vai longe!

Um grande abraço a todos!